26.05.20
Acampamento cercado por leões
Uma noite acampando no deserto fomos dormir. Acordamos para encontrar nosso acampamento cercado por leões.
Em muitos aspectos, minha primeira expedição a Namíbia foi uma experiência que me marcou e me apaixonou pelo país que visitei tantas vezes desde então. Na minha segunda missão na reserva que trabalhava, nos deram a missão de encontrar rinocerontes selvagens que habitavam perto da fronteira de Damaraland. Fotografar essa população de rinocerontes selvagens e livres pelo país era de extrema importância para campanhas de conservação ambiental da reserva, então feliz com a missão que até então me soava importante, nos aventuramos deserto a dentro.
O que demoram para me avisar sobre ir atrás de rinocerontes selvagens é que rinocerontes selvagens são virtualmente cegos. Ou seja, se você ficar parado em silêncio na frente de um, você virtualmente não seria visto, apenas como um vulto. Agora para compensar, rinocerontes tem uma audição capaz de ouvir um carro se aproximando a 4 quilomêtros de distância. Ou seja, quando você acha que está chegando perto de alguma coisa, eles já estão indo embora a muito tempo. Então a maneira mais eficiente de encontrar rinocerontes selvagens é a pé. Após encontrar uma série de rastros que rinocerontes estavam na região (esses rastros são pegadas, fezes, padrão de mordida na vegetação), você desliga o carro, coloca todo seu equipamento nas costas e se aventura andando deserto a dentro. Se aventura por um, dois, três dias no máximo, até o estoque de água começar a acabar. Ai volta para o carro e tenta de novo em outra região. Parece infernal e cansativo. É um pouco. Porém é extremamente gratificante. Um sentimento de explorador original toma seu espírito.
Na nossa última noite no deserto antes de voltar para o carro armamos nosso acampamento num espaço vazio no deserto (nunca acampamos perto de vegetação, animais maiores podem querer comer dessa vegetação a noite e resultar em um acidente) e nos preparamos para dormir. O que é interessante avisar é a dinâmica de como montamos o acampamento no deserto. Primeiro, fazemos um acampamento principal. Uma tenda com gerador de energia, equipamentos, comida. E a 20 metros de distância fazemos outro acampamento onde dormimos. Fazemos isso pela segurança. Se algum animal se aventurar no nosso acampamento atrás de nossa comida, ele passa longe de onde dormimos e se dirige ao acampamento principal. Pois muito bem. Dormimos.
Quando acordei no dia seguinte, abri a tenda e dei de cara com uma família de 12 leões dormindo entre nós e nosso acampamento principal, onde estava nosso equipamento, comida e todo mais. Fechei o zíper da barraca e por rádio me comuniquei com os outros membros da equipe nas outras barracas ao lado. Todos já tinham visto os leões e todos esperavam dentro das barracas. Afinal, o que poderíamos fazer? Atirar em 12 leões não era uma opção. Só poderíamos esperar.
Agora o problema com leões dormindo é que leões dormem quando estão de barriga cheia. Bom para nós que não estavam com fome. Mas ruim que eles não teriam pressa para sair de lá. Um leão pode ficar até três dias fazendo a digestão no mesmo lugar. Então esperamos. As oportunidades de fotos foram infinitas (até a bateria da câmera acabar e não poder trocar de bateria pois não conseguíamos chegar no acampamento principal). Ir no banheiro era uma verdadeira aventura. Para urinar abrimos um buraco na barraca e mijávamos pelo buraquinho. Já fezes era outro desafio muito maior. Tínhamos que nos aventurar fora da barraca com outro membro da equipe segurando um rifle. Então entre um leão a frente, e outro homem segurando um rifle atrás, você fazia o que tinha que fazer e deixava para se limpar na barraca. Tem certas perguntas que você só consegue se responder quando um amigo te pede para segurar um rifle em frente a leões. Você descobre o quão covarde você verdadeiramente é nesse momento.
No final esperamos por mais 12 horas até que levantaram e seguiram atrás de uma fonte de água. Saímos de nossas barracas, tomamos água, no limpamos, desmontamos o acampamento e voltamos ao carro. Foi uma aventura que parece surreal. Surreal demais para lembrar como foi viver isso. Rimos, choramos, ficamos entediados e com calor. Os leões pouco ligando para nossa existência desde que mantivéssemos distância e os respeitando. Hoje é uma história que rimos sobre. Mas foram momentos de união assim no mato que me fez amar cada vez mais o país e esse tipo de fotografia.
O que demoram para me avisar sobre ir atrás de rinocerontes selvagens é que rinocerontes selvagens são virtualmente cegos. Ou seja, se você ficar parado em silêncio na frente de um, você virtualmente não seria visto, apenas como um vulto. Agora para compensar, rinocerontes tem uma audição capaz de ouvir um carro se aproximando a 4 quilomêtros de distância. Ou seja, quando você acha que está chegando perto de alguma coisa, eles já estão indo embora a muito tempo. Então a maneira mais eficiente de encontrar rinocerontes selvagens é a pé. Após encontrar uma série de rastros que rinocerontes estavam na região (esses rastros são pegadas, fezes, padrão de mordida na vegetação), você desliga o carro, coloca todo seu equipamento nas costas e se aventura andando deserto a dentro. Se aventura por um, dois, três dias no máximo, até o estoque de água começar a acabar. Ai volta para o carro e tenta de novo em outra região. Parece infernal e cansativo. É um pouco. Porém é extremamente gratificante. Um sentimento de explorador original toma seu espírito.
Na nossa última noite no deserto antes de voltar para o carro armamos nosso acampamento num espaço vazio no deserto (nunca acampamos perto de vegetação, animais maiores podem querer comer dessa vegetação a noite e resultar em um acidente) e nos preparamos para dormir. O que é interessante avisar é a dinâmica de como montamos o acampamento no deserto. Primeiro, fazemos um acampamento principal. Uma tenda com gerador de energia, equipamentos, comida. E a 20 metros de distância fazemos outro acampamento onde dormimos. Fazemos isso pela segurança. Se algum animal se aventurar no nosso acampamento atrás de nossa comida, ele passa longe de onde dormimos e se dirige ao acampamento principal. Pois muito bem. Dormimos.
Quando acordei no dia seguinte, abri a tenda e dei de cara com uma família de 12 leões dormindo entre nós e nosso acampamento principal, onde estava nosso equipamento, comida e todo mais. Fechei o zíper da barraca e por rádio me comuniquei com os outros membros da equipe nas outras barracas ao lado. Todos já tinham visto os leões e todos esperavam dentro das barracas. Afinal, o que poderíamos fazer? Atirar em 12 leões não era uma opção. Só poderíamos esperar.
Agora o problema com leões dormindo é que leões dormem quando estão de barriga cheia. Bom para nós que não estavam com fome. Mas ruim que eles não teriam pressa para sair de lá. Um leão pode ficar até três dias fazendo a digestão no mesmo lugar. Então esperamos. As oportunidades de fotos foram infinitas (até a bateria da câmera acabar e não poder trocar de bateria pois não conseguíamos chegar no acampamento principal). Ir no banheiro era uma verdadeira aventura. Para urinar abrimos um buraco na barraca e mijávamos pelo buraquinho. Já fezes era outro desafio muito maior. Tínhamos que nos aventurar fora da barraca com outro membro da equipe segurando um rifle. Então entre um leão a frente, e outro homem segurando um rifle atrás, você fazia o que tinha que fazer e deixava para se limpar na barraca. Tem certas perguntas que você só consegue se responder quando um amigo te pede para segurar um rifle em frente a leões. Você descobre o quão covarde você verdadeiramente é nesse momento.
No final esperamos por mais 12 horas até que levantaram e seguiram atrás de uma fonte de água. Saímos de nossas barracas, tomamos água, no limpamos, desmontamos o acampamento e voltamos ao carro. Foi uma aventura que parece surreal. Surreal demais para lembrar como foi viver isso. Rimos, choramos, ficamos entediados e com calor. Os leões pouco ligando para nossa existência desde que mantivéssemos distância e os respeitando. Hoje é uma história que rimos sobre. Mas foram momentos de união assim no mato que me fez amar cada vez mais o país e esse tipo de fotografia.