17.05.20
Road trip across wild Angola
A humanitarian expedition through the countryside of Angola that changed us forever.
Até 2018 minha fotografia foi guiada pelo fotojornalismo. Tinha paixão em viajar por onde fosse e foto documentar o que via, principalmente animais e vida selvagem. No mesmo ano de 2018 tinha feito duas viagens ao continente africano em busca desses animais e relatos que contassem sua história e realidade. Foi apenas em Novembro de 2018 que fui convidado a participar de uma expedição diferente de tudo que já tinha feito até então. Minha missão me levaria a Angola, onde nosso objetivo era sair de Luanda e chegar até o deserto de Namib no extremo sul do país de carro. No caminho queríamos relatar a vida de pequenas comunidades no interior do país 20 após o termino da guerra civil. Os dados governamentais relatavam melhoras, mas até que ponto esses dados representavam uma melhoria da qualidade de vida? Era isso que queríamos documentar.
Chegar em Luanda foi relativamente tranquilo com voos diretos saindo de São Paulo. Porém ao sair do aeroporto na Angola eu já tive um sentimento forte de que as coisas nessa expedição seriam diferentes do que já tinha vivenciado. Minhas experiências no continente africano até então todas tinham sido no meio do mato, longe de pessoas e da civilização. Mas dessa vez meu objetivo era se jogar de cabeça entre as pessoas. E a missão de fotografar uma realidade tão distante de mim em tantos aspectos era um desafio. Mas uma vez lá não tinha outra escolha a não ser pular de cabeça. Logo de início tive dificuldades com a cultura local, que culturalmente se atrasam por horas, e com a estrutura básica da onde estávamos.
Sai de Luanda 3 dias depois da minha chegada e partimos de carro sentido Lubango. Durante todo o caminho eu me surpreendia, e um turbilhão de emoções começaram a desenvolver dentro de mim. Por um lado o país era mais lindo do que poderia ter imaginado. Sua natureza, o por do sol, a receptividade de suas pessoas. Era um lugar encantador. Mas ao mesmo tempo a falta de estrutura básica, pobreza, até mesmo falta de saúde de algumas pessoas era difícil de engolir. Dirigimos por 30 horas sem parar até chegar em Lubango, e o porque dirigimos por 30 horas foi o que descobri da pior maneira. Uma vez que se começa a dirigir a noite, você tem que ir até o começo do próximo dia, pois parar a noite na rodovia é muito perigoso. Passamos por madeireiras ilegais, pessoas armadas, e um fluxo de caminhões transportando todo tipo de matéria clandestina. Se seguíssemos nosso caminho tudo ficava bem. Se parássemos aí as coisas podiam complicar. E o cansaço de ficar 30 horas dirigindo toma o corpo de uma maneira que não conseguia descrever. Mas com força sobrevivemos até o nascer do sol na província de Huila. E no nascer do sol as famílias saiam para trabalhar a terra e conseguimos momentos como esses.
Ainda na província de Huila fotografamos algumas tribos de etnia Nhaneca-Humbi. E isso me deixou lições que carrego para vida. Sendo pequenas comunidades patriarcais, há apenas um pai em toda tribo. O que significa que todas as mulheres são suas mulheres e todas as pessoas são seus filhos. E ver uma comunidade com essas características genéticas vivendo no deserto foi um dos momentos mais ímpares da minha vida. Quando nos permitiram entrar na tribo, o que pensava sobre na hora era fotografia. Luz, composição, interagir com as pessoas e crianças. Relatar esse momento. Mas na hora de revelar os arquivos que o estômago embrulhou. Nas minhas fotos eu via crianças com queimaduras de fora a fora no corpo. Com cicatrizes de faca. Elefantíase. Faltando membros. Os membros mais experientes da expedição me disseram para não me apegar as crianças. A maioria não passaria de alguns anos. E isso que foi o gosto mais amargo que já senti na boca. Pela primeira vez tinha entendido meu privilégio de maneira escancarada na minha cara.
Essas fotos nunca foram publicadas por mim. Nem nunca serão. Descobri que existe um limite entre o sofrimento humano e o que posso chamar de arte, ou o que posso capitalizar sobre. Voltei para casa com sentimento de gratidão pelas pequenas coisas. De sair água enquanto abro a torneira, de ter minha casa como ela é. De ter saúde e tudo que normalmente não presto atenção a no meu dia a dia.
Minhas fotos dessa expedição foram usadas por ONGs e revistas jornalísticas do país para levantar fundos para iniciativas que buscam levar estrutura básica a essas comunidades.
Para mim ficou lições importantes sobre o ser humano, o escopo do meu trabalho e do privilégio que tenho.
Chegar em Luanda foi relativamente tranquilo com voos diretos saindo de São Paulo. Porém ao sair do aeroporto na Angola eu já tive um sentimento forte de que as coisas nessa expedição seriam diferentes do que já tinha vivenciado. Minhas experiências no continente africano até então todas tinham sido no meio do mato, longe de pessoas e da civilização. Mas dessa vez meu objetivo era se jogar de cabeça entre as pessoas. E a missão de fotografar uma realidade tão distante de mim em tantos aspectos era um desafio. Mas uma vez lá não tinha outra escolha a não ser pular de cabeça. Logo de início tive dificuldades com a cultura local, que culturalmente se atrasam por horas, e com a estrutura básica da onde estávamos.
Sai de Luanda 3 dias depois da minha chegada e partimos de carro sentido Lubango. Durante todo o caminho eu me surpreendia, e um turbilhão de emoções começaram a desenvolver dentro de mim. Por um lado o país era mais lindo do que poderia ter imaginado. Sua natureza, o por do sol, a receptividade de suas pessoas. Era um lugar encantador. Mas ao mesmo tempo a falta de estrutura básica, pobreza, até mesmo falta de saúde de algumas pessoas era difícil de engolir. Dirigimos por 30 horas sem parar até chegar em Lubango, e o porque dirigimos por 30 horas foi o que descobri da pior maneira. Uma vez que se começa a dirigir a noite, você tem que ir até o começo do próximo dia, pois parar a noite na rodovia é muito perigoso. Passamos por madeireiras ilegais, pessoas armadas, e um fluxo de caminhões transportando todo tipo de matéria clandestina. Se seguíssemos nosso caminho tudo ficava bem. Se parássemos aí as coisas podiam complicar. E o cansaço de ficar 30 horas dirigindo toma o corpo de uma maneira que não conseguia descrever. Mas com força sobrevivemos até o nascer do sol na província de Huila. E no nascer do sol as famílias saiam para trabalhar a terra e conseguimos momentos como esses.
Ainda na província de Huila fotografamos algumas tribos de etnia Nhaneca-Humbi. E isso me deixou lições que carrego para vida. Sendo pequenas comunidades patriarcais, há apenas um pai em toda tribo. O que significa que todas as mulheres são suas mulheres e todas as pessoas são seus filhos. E ver uma comunidade com essas características genéticas vivendo no deserto foi um dos momentos mais ímpares da minha vida. Quando nos permitiram entrar na tribo, o que pensava sobre na hora era fotografia. Luz, composição, interagir com as pessoas e crianças. Relatar esse momento. Mas na hora de revelar os arquivos que o estômago embrulhou. Nas minhas fotos eu via crianças com queimaduras de fora a fora no corpo. Com cicatrizes de faca. Elefantíase. Faltando membros. Os membros mais experientes da expedição me disseram para não me apegar as crianças. A maioria não passaria de alguns anos. E isso que foi o gosto mais amargo que já senti na boca. Pela primeira vez tinha entendido meu privilégio de maneira escancarada na minha cara.
Essas fotos nunca foram publicadas por mim. Nem nunca serão. Descobri que existe um limite entre o sofrimento humano e o que posso chamar de arte, ou o que posso capitalizar sobre. Voltei para casa com sentimento de gratidão pelas pequenas coisas. De sair água enquanto abro a torneira, de ter minha casa como ela é. De ter saúde e tudo que normalmente não presto atenção a no meu dia a dia.
Minhas fotos dessa expedição foram usadas por ONGs e revistas jornalísticas do país para levantar fundos para iniciativas que buscam levar estrutura básica a essas comunidades.
Para mim ficou lições importantes sobre o ser humano, o escopo do meu trabalho e do privilégio que tenho.